19 de abril de 2017



Chegara uma notícia boa, a da nossa libertação, aliás a de todos os prisioneiros que conseguiram resistir a tantas atrocidades, entre eles amigos de longa data, como Wiesel e Levi. Ambos se encontravam irreconhecíveis física e psicologicamente. Para mim e neste sentido, liberdade e destino não coincidem. A nossa libertação mostra que o nosso destino não era o previsível. Fomos finalmente libertados do aprisionamento de Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945 pelo exército vermelho da URSS a par com sete mil prisioneiros. Chegara ao fim um ano de sofrimento, de terror e de angústia. A morte, essa ficou como desejo falhado, pelo menos para alguns.


 O nosso primeiro gesto como homens livres foi o de nos ativarmos aos mantimentos.
Só pensávamos naquilo. Nem na vingança nem nos pais.
Só no pão.
Elie Wiesel, "Noite"


Após momentos de enorme emoção, emergia em mim, uma vontade intrínseca de rever todos aqueles que dão sentido e uniformização à minha vida, família e amigos. Seguiu-se o momento do reencontro com alguns deles, o que despoletou em mim uma emoção tal ao ponto de não ser capaz de conter as lágrimas, que caiam interminavelmente sobre o meu rosto faminto e desprovido de vida.

A minha mãe espera-me e ficará seguramente feliz por me ver, a pobre
Imre Kertész, "Sem destino"