Chegara uma notícia boa, a da nossa
libertação, aliás a de todos os prisioneiros que conseguiram resistir a tantas
atrocidades, entre eles amigos de longa data, como Wiesel e Levi. Ambos se
encontravam irreconhecíveis física e psicologicamente. Para mim e neste
sentido, liberdade e destino não coincidem. A nossa libertação mostra que o
nosso destino não era o previsível. Fomos finalmente libertados do
aprisionamento de Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945 pelo exército vermelho da
URSS a par com sete mil prisioneiros. Chegara ao fim um ano de sofrimento, de
terror e de angústia. A morte, essa ficou como desejo falhado, pelo menos para
alguns.
O nosso primeiro gesto como homens livres foi o de
nos ativarmos aos mantimentos.
Só pensávamos naquilo. Nem na vingança nem nos pais.
Só no pão.
Elie
Wiesel, "Noite"
Após momentos de enorme emoção, emergia
em mim, uma vontade intrínseca de rever todos aqueles que dão sentido e
uniformização à minha vida, família e amigos. Seguiu-se o momento do reencontro
com alguns deles, o que despoletou em mim uma emoção tal ao ponto de não ser
capaz de conter as lágrimas, que caiam interminavelmente sobre o meu rosto
faminto e desprovido de vida.
A minha mãe espera-me
e ficará seguramente feliz por me ver, a pobre
Imre Kertész, "Sem destino"