Perante a ameaça, fugimos para Amesterdão. Uma viagem que traduziu à letra a nossa única hipótese de escapar ao antissetimismo que alastrava por todos os recantos da sociedade alemã.
O dia era lindo. O sol iluminava a esperança de nos vermos livres do terror dos campos de concentração. Em Amesterdão, esperavam-nos familiares da minha mulher. Tios, primos e irmãos. O rosto dela evidenciava claramente a alegria de rever os seus entes queridos.
Várias eram as emoções que sentíamos e que os nossos rostos perfilhavam. Depois de recebidos, com toda a hospitalidade, pelos nossos familiares, rompemos ruas, becos e até praças. Até que…
A angústia crescia: de súbito,
como que projetados no ar por raios invisíveis de uma espécie de fonte diabólica...
Imre Kertész, "A recusa"