17 de abril de 2017


Ainda que pareça estranho, sinto-me contente porque, embora, tenha sido submetido durante um ano a condições alimentares, de higiene e de trabalho repugnantes nas quais o ser humano é uma espécie de cobaia despedido de direitos, personalidade e de valores e também ao facto de nunca mais voltar a ver e a estar com Gonçalo e Adam, duas pessoas incríveis que conheci no local onde trabalhava e com as quais adorei relacionar-me no campo em que estive, tenho a esperança de conseguir manter sempre contacto com Wiesel e Levi, dois grandes amigos que fiz, o que me dá um grande conforto e segurança. Por incrível que pareça, duas amizades construídas no ano mais avassalador de toda a minha vida. O ano do aprisionamento em Auschwitz.


Quando falo com alguém sobre Auschwitz e sobre o que se faz para sobreviver num espaço que anuncia a angústia e o terror, não hesito em falar em direitos humanos. Em Auschwitz o homem não é verdadeiramente homem, porque ser homem é ser livre. Não concordas Sara? Sim, claro Tom. Isto foi, sem dúvida, o que verifiquei, aliás o que nós verificámos ao assistir ao dia-a-dia da sobrevivência de milhares de indivíduos que não conseguiam ter esperança de escapar ao gaseamento ou ao trabalho forçado no campo de concentração. Foi pelo facto de termos testemunhado a experiência de sobrevivência em Auschwitz que podemos afirmar que ser-se homem é ser-se grande. É sonhar, ter objetivos definidos que superem os ímpetos da emoção, mas sobretudo, reconhecer que enquanto seres humanos não somos totalmente iguais, pois existem diferenças a vários níveis e que nos permitem distinguir dos demais, e por isso, consideramos que o Holocausto radica na indiferença, na intolerância e na não-aceitação do outro, como ser diferente de nós mesmos do ponto de vista biológico e cultural. Porém e admitindo algumas diferenças entre nós, na natureza e na dignidade humana somos todos iguais.